terça-feira, 25 de maio de 2010

Iria morrer, depois de anos trabalhando no mesmo lugar, me doando a homens e mulheres, iria morrer;
Trajada com o vestido vermelho, notei que aquele doutorzinho de merda comia as minhas pernas grossas e esquecia da minha morte, puta não devia morrer;
Sai atordoada, procurei um cigarro, nada, procurei dinheiro, nada, prostituta, falida e moribunda;
Voltei pra pensão só pensava em dormir mais não conseguia, chorei, ou melhor, tentei chorar, tomei alguns calmantes, apagada;
Levantei eram 22:15, blusa branca, saia preta, assim iria facilitar, sempre facilita, na esquina comum de toda uma vida, fiz cinco programa, naquele fim de noite fazia frio, um frio diferente;
Já eram 4:42 e eu voltava pra casa, voltava pro meu túmulo, esquina escura, senti uma mão tapando a minha boca, os braços firmes me empurrando contra a parede, uma dor terrível nas costelas, pensei em gritar, um murro perto do nariz, o sangue já escorria pelo rosto, ao puxar meu cabelo cai no chão, abriu as minhas pernas, me comeu ali mesmo, só pensava no que diriam de mim, o estupro de uma puta;
Tava escuro, chovia pouco, era claro quando ele me viu, um nojo nos seus olhos, 04 de Março de 1983, ele só tinha 16, escolheu os amigos errados, uma prova errada, a puta era sua irmã, a puta errada ele gritou, falso moralista, um tiro na cabeça, duas mortes, um erro;
Meu sangue lavou as calçadas daquela madrugada fria, sem filhos, sem amores, sem nada, puta, fria, morta.

Um comentário:

  1. CHOCANTE!, porém belo e realista.
    Estou a sinestesiar o cheiro do sangue daqui...

    (;

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