terça-feira, 8 de junho de 2010

Meu doce afeto,

Passei em casa pra deixar as chaves debaixo do tapete, e vi sua carta, desculpe não mandar tantas noticias, ando meio distraída com a nova cidade.
As coisas aqui estão bem, conheci tanta gente, ando vendo tanta coisa, sinto falta de você, me alegra saber que retomou a mudança, eu sempre soube que isso lhe faria bem, e me faça um favor, queime aquele velho sofá azul, conheço o seu gosto ele não combinara com nada..
Sobre o novo inquilino fico tranquila em saber que ele é de sua confiança, os outros que passaram deixaram tantas marcas feias nas paredes, perdi as contas de quantas vezes as pintamos, derrubar e construir tudo, foi uma ótima escolha.
Arrumando o guarda roupa, achei o seu disco do Chico, sei que ficara feliz com a novidade, tive que tirar algumas coisas, doei alguns casacos, sapatos, ele chega logo preciso de espaço na casa, de espaço no quarto.
Fiquei surpresa quando ele me ligou, não o esperava mais, já fazia tanto tempo, estou ansiosa pra saber como me achou, precisa conhecê-lo sei que serão grandes amigos.
Ficaremos um tempo no Rio pra desfrutar um pouco do frio que vem fazendo nessa cidade, faremos algumas compras, precisamos de um violão e uma nova gaita, os projetos são os mesmos, ele é a novidade dessa vez.
No mais sinto falta da sua alegria, assim que essa temporada acabar, estamos de volta, por favor, não esqueça de me mandar noticias, deixe um beijo pra todos.

Da sua grande amiga,
Nataly


PS. Comprei pra você um novo casaco, sei que gosta do velho azul com branco, mais acho que esse será do seu agrado, é simples, mas bonito, achei enquanto passeava por uma bonita rua na Lapa.
Espero que goste.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Chovia um pouco aquela tarde mais não incomodava, manchava meus óculos, tudo bem;
Todos os dias eu passava por aquela mesma rua, era calma, tinha umas casas antigas, bonitas, nunca imaginei senti aquilo tudo ali;
Havia muita gente, se não houvesse um ruído de choro tão forte, existiria o mesmo silencio cotidiano;
Aproximei-me daquela cena que me lembrava uma pintura antiga vista em algum filme, reparei uma moça bonita abraçada com um rapaz que devia ter seus 22 anos, alguns livros e cadernos espalhados, a chuva não parava;
Posicionada ao lado esquerdo, sentada na escadaria de uma casa verde, vi a moça de semblante triste levantar seu olhar e reparar os espectadores, foi quando ela beijou a testa do rapaz que descansará ali, alisou seus cabelos, entre lagrimas eu a vi gritar pra todos, quebrando mais uma vez o silencio, quebrando tudo;
Eu o amava, era o meu amigo, mais eu amava, respeitava os seus sonhos, suas melhores ambições, discordava de algumas coisas, mais eu o amava, essa tarde íamos ao cinema, ele nunca soube como me fazia bem a sua presença, ele nunca soube como eu queria tê-lo ao meu lado sempre, ele nunca soube do meu amor, do meu ciúme, do meu desejo, por que eu esperei o tempo passar, eu esperei ele enxergar, não deixaram eu dizer que eu o amava;
Aquela declaração invadiu a minha mente, rasgando a minha frieza, destruindo toda a certeza que eu construía durantes longos 20 anos;
A chuva aumentava, os curiosos desapareciam, vi quando uma ambulância levara o garoto dali, a vi recolher os papeis, cadernos e livros sozinha, algumas pessoas tentavam lhe dizer algo, ela os ignorava, nem me viu, não me notou, não notou nada;
Sai dali peguei meu ônibus, molhada, atrasada, não sabia no que pensar, se não houvesse largado a tanto tempo, acenderia um pra passar o frio;
Bem desculpe chegar assim tão tarde, desabafar assim, só tive medo que não desse mais tempo, nunca sei quando vou encontrá-lo, obrigado por existir, obrigado por fazer que eu me sinta assim, bem;

sábado, 5 de junho de 2010

Sentada entre os dois lados de um mesmo sofá, esquecia de pensar, um idiota qualquer no meio de tanta gente, no meio de um copo de bebida interminável, me diz a seguinte frase...
-nunca entendi bem o que é ta apaixonado...

-escute bem, não vou repetir de novo...
quando criança é o que você quer mais, senti, de repente acontece, bom muito bom, aquela sensação, de um corpo inteiro gelando e queimando ao mesmo tempo, um descontrole automático, de mãos, pernas, braços... um descontrole do corpo, um bom conselho permaneça sentado, você pode cair...
parece até besteira mais quando nada acontece é a pior coisa do mundo, já se sentiu um lixo? pronto, é assim, não adianta ser auto suficiente, não adianta ser egoísta, la no fundo você vai sentir, um aperto que puxa o seu peito pra dentro e parece sufocar, as vezes me lembra a cólica num lugar diferente, tenho as mesmas reações, choro, choro, deito na cama, rolo de um canto a outro até achar uma melhor posição e nada;
espero que aconteça, é sempre melhor, todos os dias a mesma felicidade, ama-se o mínimo, o todo não existe, é o sorriso, o olhar, o andar, o falar, cada parte dividido, não a paixão e sim as partes que formam a paixão;
traduzindo, é bom se apaixonar, mais passa, paixão sempre passa.

um cigarro e um filme qualquer encerraram essa noite.



(qualquer semelhança com uma estoria verídica não é conhecidencia, né Juan \o/)

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Uma declaração de carinho.

Querido amigo,



Foi assim por acaso, sorria que nem uma pequena idiota, ele vinha daquele jeitinho, desengonçado, magrinho, bonito;
Era uma espécie diferente, passou por mim, passou por um rio de pessoas, se estalou ao lado esquerdo daquele automóvel enorme, era uma quinta-feira, fazia um calor infernal, foi assim que eu o conheci pela primeira vez;
Comecei a analisar as diferentes maneiras de ele ser o mesmo, nada demais, mas às vezes tinha vontade de enfiar minha cabeça no buraco mais próximo, o freio me fez esquecer, passou-se um mês;
Naquela novidade cotidiana os passeios se tornaram mais divertidos, em tempos mais remotos, puxaria uma conversa qualquer, mais não sabia o que dizer a não ser que era engraçado a forma com que ele olhava sempre pra frente do ônibus, com aquele fone preto no ouvido esquecendo do mundo, se desligando de tudo;
O conheci pela segunda vez numa noite com poucas estrelas, depois de um abraço confortante, naquela que mais tarde ouviria tudo isso, notei o sorriso dele e a lembrança da minha figura, desconcertante, não acreditava, no que via, ouvia;
Era um sábado, tão quente como aquela quinta-feira, a única diferença é que dessa vez existiam palavras, depois disso notei seus castanhos lindos olhos, um sorriso encantador, um intelecto fascinante e ainda desengonçado, magrinho e bonito;
Seria necessário outros passeios por esses papeis pra explicar tudo que vem acontecendo, rimos bastante, discordamos outras tantas, eu uma espécie de hippie modernizada, ele um típico rockeiro urbano anos 80, apesar desse incrível contraste, sim nos damos bem, apesar de algumas diferenças de ego, nos damos muito bem;
Hoje ele continua assim, seu bom gosto por musica, cinema, faz da sua companhia mais do que agradável, é essencial, se tornou uma parte minha naquela que seria e será a nossa viajem todos os dias, juntos.
No mais, aguardo uma resposta a essa declaração de carinho em forma de carta, qualquer novidade lhe envio pelo correio.


De sua amiga Natália.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

É seu moço ela nasceu de sete meses, pequena, magrinha, feia, diziam que pareci comigo, nunca liguei;
É seu moço, dava um trabalho essa tal de Carolina, parecia um moleque, corria pro rio pra pescar, empinava pipa e jogava pião, demorou pra se ajeitar essa menina;
È seu moço nunca vi tão dificil pra estudar e olhe que a gente disse que não teve oportunidade, que explicou, insistiu, viver pra ela era contar estrela, até tarde;
É seu moço foi dificil mudar de cidade, ela falava de uma tal de lealdade, que eu quebrava a cada passo, já fez oito anos e essa ai nunca veio atras pra reclamar;
É seu moço parei de trabalhar, troquei com a mulhé, não podia, tava doente do coração, tinha que dormir, tinha que parar;
É seu moço ela agora tinha dezesseis, tava mais bonita, com mais jeito de mocinha, alisei seus cabelos enquanto dormia, sonhei com a minha filhinha;
É seu moço já eram meio dia, tava um dia quente como a muito tempo não se via, ssegurei ela na cama e toquei seu corpo, ela chorava, mais eu a queria, não pensei eu só queria;
É seu moço depois veio a tristeza ela só tinha dezesseis e eu tive que matar a Carolina, ninguem nunca vai entender eu a amava, eu precisava, era a minha menina, era a minha filha Carolina.

domingo, 30 de maio de 2010

Experimente.

Experimente aprender a amar...
Sinta o coração bater acelerado, as mãos ficarem frias e tremulas, note que sempre haverá algo que vai lembrar ele...
Experimente amá-lo...
Acorde e fique feliz apenas por ele existir, se arrume mais, viva cada momento com toda a intensidade do mundo...
Experimente viver o amor...
Apresente-o ao seu mundo e deguste o dele, entre na família, o torne parte da sua, faça planos pro futuro...
Experimente sofrer por amor...
Chore um pouco, brigue por bobagens, tenha ciúme de amigas...
Experimente admitir que acabou o amor...
Arrume desculpas e defeitos, ache-o feio, levante a cabeça, se sinta auto suficiente...
Experimente brincar com amor...
Saia toda sexta, sábado e domingo, ligue pra antigos amigos, saia com pessoas das quais o nome você nunca lembrara...
Experimente sentir falta de amar...
Note que os seus amigos estão amando, veja que às vezes é bom conversar sobre besteiras que só tem graça por amor, conheça e viva alguém que você nunca esperava...
Experimente aprender a amar...

terça-feira, 25 de maio de 2010

Iria morrer, depois de anos trabalhando no mesmo lugar, me doando a homens e mulheres, iria morrer;
Trajada com o vestido vermelho, notei que aquele doutorzinho de merda comia as minhas pernas grossas e esquecia da minha morte, puta não devia morrer;
Sai atordoada, procurei um cigarro, nada, procurei dinheiro, nada, prostituta, falida e moribunda;
Voltei pra pensão só pensava em dormir mais não conseguia, chorei, ou melhor, tentei chorar, tomei alguns calmantes, apagada;
Levantei eram 22:15, blusa branca, saia preta, assim iria facilitar, sempre facilita, na esquina comum de toda uma vida, fiz cinco programa, naquele fim de noite fazia frio, um frio diferente;
Já eram 4:42 e eu voltava pra casa, voltava pro meu túmulo, esquina escura, senti uma mão tapando a minha boca, os braços firmes me empurrando contra a parede, uma dor terrível nas costelas, pensei em gritar, um murro perto do nariz, o sangue já escorria pelo rosto, ao puxar meu cabelo cai no chão, abriu as minhas pernas, me comeu ali mesmo, só pensava no que diriam de mim, o estupro de uma puta;
Tava escuro, chovia pouco, era claro quando ele me viu, um nojo nos seus olhos, 04 de Março de 1983, ele só tinha 16, escolheu os amigos errados, uma prova errada, a puta era sua irmã, a puta errada ele gritou, falso moralista, um tiro na cabeça, duas mortes, um erro;
Meu sangue lavou as calçadas daquela madrugada fria, sem filhos, sem amores, sem nada, puta, fria, morta.