quinta-feira, 3 de junho de 2010

Uma declaração de carinho.

Querido amigo,



Foi assim por acaso, sorria que nem uma pequena idiota, ele vinha daquele jeitinho, desengonçado, magrinho, bonito;
Era uma espécie diferente, passou por mim, passou por um rio de pessoas, se estalou ao lado esquerdo daquele automóvel enorme, era uma quinta-feira, fazia um calor infernal, foi assim que eu o conheci pela primeira vez;
Comecei a analisar as diferentes maneiras de ele ser o mesmo, nada demais, mas às vezes tinha vontade de enfiar minha cabeça no buraco mais próximo, o freio me fez esquecer, passou-se um mês;
Naquela novidade cotidiana os passeios se tornaram mais divertidos, em tempos mais remotos, puxaria uma conversa qualquer, mais não sabia o que dizer a não ser que era engraçado a forma com que ele olhava sempre pra frente do ônibus, com aquele fone preto no ouvido esquecendo do mundo, se desligando de tudo;
O conheci pela segunda vez numa noite com poucas estrelas, depois de um abraço confortante, naquela que mais tarde ouviria tudo isso, notei o sorriso dele e a lembrança da minha figura, desconcertante, não acreditava, no que via, ouvia;
Era um sábado, tão quente como aquela quinta-feira, a única diferença é que dessa vez existiam palavras, depois disso notei seus castanhos lindos olhos, um sorriso encantador, um intelecto fascinante e ainda desengonçado, magrinho e bonito;
Seria necessário outros passeios por esses papeis pra explicar tudo que vem acontecendo, rimos bastante, discordamos outras tantas, eu uma espécie de hippie modernizada, ele um típico rockeiro urbano anos 80, apesar desse incrível contraste, sim nos damos bem, apesar de algumas diferenças de ego, nos damos muito bem;
Hoje ele continua assim, seu bom gosto por musica, cinema, faz da sua companhia mais do que agradável, é essencial, se tornou uma parte minha naquela que seria e será a nossa viajem todos os dias, juntos.
No mais, aguardo uma resposta a essa declaração de carinho em forma de carta, qualquer novidade lhe envio pelo correio.


De sua amiga Natália.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

É seu moço ela nasceu de sete meses, pequena, magrinha, feia, diziam que pareci comigo, nunca liguei;
É seu moço, dava um trabalho essa tal de Carolina, parecia um moleque, corria pro rio pra pescar, empinava pipa e jogava pião, demorou pra se ajeitar essa menina;
È seu moço nunca vi tão dificil pra estudar e olhe que a gente disse que não teve oportunidade, que explicou, insistiu, viver pra ela era contar estrela, até tarde;
É seu moço foi dificil mudar de cidade, ela falava de uma tal de lealdade, que eu quebrava a cada passo, já fez oito anos e essa ai nunca veio atras pra reclamar;
É seu moço parei de trabalhar, troquei com a mulhé, não podia, tava doente do coração, tinha que dormir, tinha que parar;
É seu moço ela agora tinha dezesseis, tava mais bonita, com mais jeito de mocinha, alisei seus cabelos enquanto dormia, sonhei com a minha filhinha;
É seu moço já eram meio dia, tava um dia quente como a muito tempo não se via, ssegurei ela na cama e toquei seu corpo, ela chorava, mais eu a queria, não pensei eu só queria;
É seu moço depois veio a tristeza ela só tinha dezesseis e eu tive que matar a Carolina, ninguem nunca vai entender eu a amava, eu precisava, era a minha menina, era a minha filha Carolina.

domingo, 30 de maio de 2010

Experimente.

Experimente aprender a amar...
Sinta o coração bater acelerado, as mãos ficarem frias e tremulas, note que sempre haverá algo que vai lembrar ele...
Experimente amá-lo...
Acorde e fique feliz apenas por ele existir, se arrume mais, viva cada momento com toda a intensidade do mundo...
Experimente viver o amor...
Apresente-o ao seu mundo e deguste o dele, entre na família, o torne parte da sua, faça planos pro futuro...
Experimente sofrer por amor...
Chore um pouco, brigue por bobagens, tenha ciúme de amigas...
Experimente admitir que acabou o amor...
Arrume desculpas e defeitos, ache-o feio, levante a cabeça, se sinta auto suficiente...
Experimente brincar com amor...
Saia toda sexta, sábado e domingo, ligue pra antigos amigos, saia com pessoas das quais o nome você nunca lembrara...
Experimente sentir falta de amar...
Note que os seus amigos estão amando, veja que às vezes é bom conversar sobre besteiras que só tem graça por amor, conheça e viva alguém que você nunca esperava...
Experimente aprender a amar...

terça-feira, 25 de maio de 2010

Iria morrer, depois de anos trabalhando no mesmo lugar, me doando a homens e mulheres, iria morrer;
Trajada com o vestido vermelho, notei que aquele doutorzinho de merda comia as minhas pernas grossas e esquecia da minha morte, puta não devia morrer;
Sai atordoada, procurei um cigarro, nada, procurei dinheiro, nada, prostituta, falida e moribunda;
Voltei pra pensão só pensava em dormir mais não conseguia, chorei, ou melhor, tentei chorar, tomei alguns calmantes, apagada;
Levantei eram 22:15, blusa branca, saia preta, assim iria facilitar, sempre facilita, na esquina comum de toda uma vida, fiz cinco programa, naquele fim de noite fazia frio, um frio diferente;
Já eram 4:42 e eu voltava pra casa, voltava pro meu túmulo, esquina escura, senti uma mão tapando a minha boca, os braços firmes me empurrando contra a parede, uma dor terrível nas costelas, pensei em gritar, um murro perto do nariz, o sangue já escorria pelo rosto, ao puxar meu cabelo cai no chão, abriu as minhas pernas, me comeu ali mesmo, só pensava no que diriam de mim, o estupro de uma puta;
Tava escuro, chovia pouco, era claro quando ele me viu, um nojo nos seus olhos, 04 de Março de 1983, ele só tinha 16, escolheu os amigos errados, uma prova errada, a puta era sua irmã, a puta errada ele gritou, falso moralista, um tiro na cabeça, duas mortes, um erro;
Meu sangue lavou as calçadas daquela madrugada fria, sem filhos, sem amores, sem nada, puta, fria, morta.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Acho que tinha uns quinze anos, meus amigos falavam daquela noite como se fosse a última de suas vidas eu não estava nem um pouco interessado em fantasias, melodias, pornografias;
Gostava dos meus carrinhos, da minha coleção de selos, dos domingos da missa;
Mais fui, fui como um cachorro preso que preferiria o quente dos tapetes velhos, aos passeios noturnos da grande cidade;
Sentei-me ao canto, observei todo aquele acontecimento normal pra minha idade, mas que me encomodava, que me frustrava muito, até que sai, la fora reencostado numa pedra acendi um cigarro, dei um gole na minha coca-cola e vi o andar, andar doce, ao longe parecia um anjo, parecia flutuar;
Sensação esquisita senti um calafrio correr todo o meu corpo, as pernas estavam levemente bambas, meu coração acelerado, eu não era mais um menino, meninos é que sentem isso, já tinha quinze era um homem e meu anjo ali;
Ficaria a noite toda preso naquele andar, pensei na minha mãe, nas lições do catecismo, nos amores impossíveis dos romances lidos no colégio, por um instante fechei os olhos e senti ele perto de mim, senti uma vontade tomar conta de tudo, e de repente o medo, era um pecado, um erro...
Mais um trago no cigarro, último gole daquela coca-cola, levantei-me, enxuguei o rosto molhado de suor e parti, parti como uma criança boba, dentro da festa, meus amigos divertiam-se ao som das baladas que esquentavam aquela década de 70 e eu pensava no meu anjo;
Nunca mais o vi, nunca esquecerei o garoto de cabelos negros e de olhos verdes, meu anjo que flutuou pra longe me trazendo a certeza de quem eu sou.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

- Bonito?
- sim, um pouco
- inteligente?
- o suficiente pra me fazer rir...
- romantico?
- não sei, não sei mesmo, parece ser, não posso afirmar...
- então pra que tudo isso?
- de repente eu me vi muda, meu coração batia acelerado parecia um tambor ou sei la o que, me incomodou ao ponto de que eu queria chorar sabe, queria voar em seu percoço e ele nem me viu, nunca nem notou que meus olhos tinham a mesma cor dos dele, que tinhamos o mesmo gosto musical, uma maneira parecida de vê o mundo, não, não... ele não notou, não viu nada, passou sorrindo, passou feliz, e eu fiquei ali muda, triste, eu nem sabia o por que, so sabia que sentia.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

São exatamente 23:15 e me deparo com a duvida de recordar uma palavra, uma palavra dita a muito tempo e que hoje é de grande importância.
Tento me lembrar do fim, o começo ta sempre me escapando, a palavra ta ali no meio, já faz tanto tempo...
Revirei cartas, li gavetas, pensei loucamente em ligar pra amigos, gritar pra alguém quem sabe, mais quem?
Trabalhar. é trabalhar seria uma boa saída, são tantos os projetos em cima da minha mesa, nada faz sentido, falta ela lendo um livro, fumando aquele cigarro nojento.
Ela! é, ela deve saber, 23:45, tenho que correr, pensei no carro não lembrei onde pus as chaves, assim descalço, com os cabelos desarrumados, assim cru, corri 5 ruas, como um louco, como um bobo.
Corri, corri, parei. Velho portão azul, campainha, ela.

-O que foi?
-Ah, que bom, obrigado...
- O que foi?
- Saudade. Eu sabia que só você sabia.